quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Enzimas da floresta

0 Comentários
Viabilizar a fabricação industrial de etanol celulósico não é uma tarefa trivial, mas é fundamental para aumentar a produção brasileira do combustível sem ampliar a área plantada de cana-de-açúcar. A chave para essa revolução tecnológica pode estar na imensa diversidade de microrganismos da Floresta Amazônica







O projeto foi aprovado no âmbito do acordo de cooperação assinado em 2009 pelas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) dos Estados de São Paulo (FAPESP), Minas Gerais (Fapemig) e do Pará (Fapespa) e pela Vale S.A.


As pesquisas serão realizadas por cientistas do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), sediado em Campinas (SP), e da Universidade Federal do Pará (UFPA). O grupo prospectará microrganismos e coquetéis enzimáticos que possam ser aplicados na fabricação do etanol celulósico.

De acordo com Carlos Eduardo Rossell, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e coordenador da vertente paulista do projeto, atualmente a fabricação de etanol só é viável a partir da sacarose, que corresponde a um terço da biomassa da cana-de-açúcar.

O etanol celulósico decorre do aproveitamento dos outros dois terços da biomassa da planta. Com a produção de etanol a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, será possível aumentar a produtividade sem alterar a área plantada.

“O desafio para isso é a natureza recalcitrante da biomassa. O material lignocelulósico é muito resistente aos ataques enzimáticos”, disse Rossell à Agência FAPESP.

Na Floresta Amazônica, no entanto, devido à presença de microrganismos específicos da região, a degradação natural de grandes quantidades de biomassa ocorre de forma contínua.

“Esperamos encontrar ali linhagens especiais de fungos e bactérias que possam degradar a celulose da planta de forma mais eficiente. Vamos tentar fazer com o bagaço e a palha da cana-de-açúcar o que a floresta faz com a biomassa”, explicou.

O projeto, segundo Rossell, integrará diversos grupos de pesquisa, promovendo intercâmbio entre os pesquisadores do CTBE e da UFPA em busca dos microrganismos degradadores da lignocelulose.

Na primeira fase da pesquisa, os cientistas do Laboratório de Investigação Sistemática em Biotecnologia e Biodiversidade Molecular da UFPA, sob a liderança de Alberdan Silva Santos, farão a prospecção das linhagens de fungos e bactérias de interesse – tanto na floresta, como em resíduos agrícolas da região Norte, em culturas como as de mandioca e açaí.

“Os microrganismos serão cultivados e selecionados na presença de compostos enzimáticos com potencial biotecnológico na degradação da biomassa. A equipe utilizará técnicas de biologia molecular para identificar as linhagens produtoras dessas enzimas”, explicou Santos.

Segundo o cientista, realizar a prospecção de microrganismos na floresta, em vez de fazê-lo nos canaviais, ampliará consideravelmente as chances de encontrar as enzimas ideais para o processo de produção do etanol celulósico.

De acordo com estudos realizados por cientistas do Programa Biota-FAPESP, o número de bactérias nas plantas cultivadas pode ser 99% menor que o das plantas das florestas.

“Serão feitos, também, testes com suplementação e sinergia entre enzimas. Eventualmente, um complexo enzimático produzido por um fungo ou bactéria pode vir a ser mais eficiente na degradação da celulose se forem acrescentadas outras enzimas a ele”, afirmou Santos.

COQUETÉIS ENZIMÁTICOS

Na segunda fase do projeto, após a caracterização dos microrganismos e da atividade enzimática, os cientistas do CTBE, sob a liderança de José Geraldo Pradella, irão otimizar o processo de produção dos coquetéis enzimáticos das espécies amazônicas em conjunto com uma nova técnica de pré-tratamento da biomassa desenvolvida no próprio laboratório.

O objetivo dos cientistas é produzir três a quatro coquetéis enzimáticos eficientes testados sobre 20 a 30 tipos de polpas celulósicas pré-tratadas em condições distintas. A partir disso, o processo laboratorial será levado para ensaios em escala semi-industrial.

“A estrutura de plantas de desenvolvimento piloto do CTBE foi criada fundamentalmente com o objetivo de levar a pesquisa básica para um patamar que possibilite a produção em maior escala. A ideia é estabelecer os parâmetros de produção industrial em termos de rendimento, de custos, de volume, de consumo de energia e água, por exemplo”, disse Pradella.

Na planta piloto do CTBE, os testes de produção de enzimas e hidrólise da celulose da cana-de-açúcar passarão a ser feitos em reatores de até 200 litros.

“A escala vai ser ampliada cerca de dez vezes, em relação à escala laboratorial. Isso vai permitir identificar os gargalos do processo em condições operacionais semelhantes à da produção industrial”, destacou Rossell.



*Com Luiz Paulo Juttel, do CTBE.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

As 10 florestas mais ameaçadas do mundo

0 Comentários
O Ano Internacional das Florestas foi lançado oficialmente hoje pela ONU. Para enfatizar a data e alertar para a importância da preservação, a ONG Conservação Internacional divulga as florestas que mais correm o risco de sumirem do mapa. Com apenas 10% de sua cobertura vegetal original, a Mata Atlântica, na costa brasileira, é uma delas

Elas cobrem apenas 30% da área do planeta. Ainda assim, abrigam 80% da biodiversidade terrestre mundial. As florestas também são diretamente importantes para a sobrevivência dos humanos. Estima-se que 1,6 bilhão de pessoas dependem delas para garantir o seu sustento. Além disso, muitas das necessidades mais básicas para a sobrevivência do homem na Terra veem das interações entre as espécies de plantas e animais com os ecossistemas, como a polinização de safras agrícolas, os solos saudáveis, os remédios, o ar puro e a água doce.


Apesar de terem tanta importância, a devastação vem destruindo as florestas. Com o objetivo de alertar todo o mundo para a necessidade de conservá-las, a ONU declarou 2011 como o Ano Internacional das Florestas (Leia 2011 é o Ano Internacional das Florestas), que é inaugurado oficialmente hoje, em Nova York. A ONG CI - Conservação Internacional* aproveita a ocasião para divulgar os dez hotspots florestais mais ameaçados de extinção do mundo. Para ser considerado um hotspot, área deve ter riqueza biológica extrema, índice elevado de espécies únicas de animais e plantas, além de estar altamente degradada, com grande risco de desaparecer. No caso da lista de hotspots florestais, a CI considerou florestas que já perderam 90% ou mais de sua cobertura original e que abrigam, cada uma, pelo menos 1.500 espécies de plantas endêmicas (que só existem naquele local).

A lista inclui florestas no sudeste asiático, na Nova Zelândia, nas montanhas do centro-sul da China, na região costeira da África Oriental e na ilha de Madagascar. O Brasil aparece por conta da Mata Atlântica, que abriga cerca de 20 mil espécies de plantas, 40% delas endêmicas. Atualmente, o bioma ameaçado tem apenas 8% do que era a sua cobertura original. Veja na tabela abaixo a classificação dos hotspots florestais:

“As florestas estão sendo destruídas a uma taxa alarmante para dar lugar a pastagens, plantações, mineração e expansão de áreas urbanas. Com isso, estamos destruindo nossa própria capacidade de sobreviver,” alerta Olivier Langrand, diretor de política internacional da CI. Ele lembra que, além de prestar serviços vitais para os humanos, as florestas têm potencial econômico, de prevenção de erosão e, ainda, de absorção do carbono, gás que contribui para o aquecimento global.

Para o fornecimento de água, elas também são essenciais. A CI divulga que cerca de três quartos da água doce acessível do mundo vêm de vertentes florestais. Além disso, dois terços de todas as maiores cidades de países em desenvolvimento dependem de uma floresta em sua proximidade para o suprimento de água limpa. Segundo Tracy Farrell, diretora do Programa de Conservação de Água Doce da ONG, fora as instalações de dessalinização, que são economicamente muito caras, a única forma de manter nosso suprimento de água doce é proteger as florestas remanescentes.

A CI ainda chama a atenção da contribuição das florestas para a estabilização do clima. De acordo com a ONG, os dez hotspots florestais mais ameaçados do mundo armazenam mais de 25 gigatons de carbono. Por outro lado, o desmatamento representa aproximadamente 15% das emissões totais de gases do efeito estufa.

O alerta da ONG também é dirigido aos governos, para que eles repensem seus programas de proteção e preservação de suas floresta, como afirma Langrand. “Florestas saudáveis nos oferecem os melhores meios econômicos para enfrentar os diversos desafios ambientais da mudança climática e a crescente demanda por produtos florestais”, diz.



*Conservação Internacional




Fonte; planeta Sustentavél
.

O barulho não está para peixe

0 Comentários












mamíferos marinhos


O barulho não está para peixe

Cientistas descobrem nova fonte de perturbação na vida dos mamíferos marinhos: a poluição sonora nas profundezas

- A A +Carolina Melo

Revista Veja – 22/12/2010

O fundo do mar parece ser um lugar silencioso - mas não é. Um estudo conduzido nos últimos dez anos pelo Programa de Pesquisa Bioacústica da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e recém-divulgado, concluiu que o ambiente marítimo não está a salvo da poluição sonora. O que perturba as profundezas não é o mesmo ruído da superfície, até porque a propagação do som na água é quatro vezes mais rápida e eficiente do que no ar. Por isso, é natural que mamíferos marinhos e alguns peixes usem o som para se comunicar. Aí está, por sinal, o problema ambiental. Os sons de baixa frequência produzidos pelos propulsores dos navios, turbinas de vento, plataformas petrolíferas e fazendas pesqueiras viajam grandes distâncias no oceano. O barulho reverbera pelas profundezas, e baleias, golfinhos e certos peixes que se comunicam com sons de baixa frequência ficam atordoados, como se estivessem no meio de um permanente show de rock pesado.

Os cetáceos dependem da audição para encontrar alimento, reproduzir-se, fugir de predadores e se manter unidos durante migrações. Por essa razão, a poluição sonora é no mar o que o desmatamento representa em terra: uma redução do habitat. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que as baleias-francas-do-norte, que se reuniam na Baía de Cape Cod, na costa leste dos Estados Unidos, para se alimentar e acasalar, estão deixando o local. O motivo, eles suspeitam, é o barulho. "Não sabemos para onde os mamíferos foram, mas sabemos que eles não suportam toda essa atividade no mar e partem para locais mais silenciosos", disse a VEJA o americano Chris Clark, coordenador da pesquisa de Cornell. O biólogo Marcos Rossi, do Instituto Baleia Jubarte, explica: "Uma vez que o ambiente marinho está repleto de ruídos, as baleias não apenas têm dificuldade para se orientar pelos barulhos naturais do oceano como também para se comunicar entre si, o que é vital para todas as espécies".

As baleias não são os únicos animais afetados. Os golfinhos, por exemplo, devem estar igualmente incomodados. Ocorre que as francas-do-norte são as mais protegidas e estudadas de todas as baleias. Os pesquisadores chegam a conhecer por um nome próprio cada um dos 350 exemplares identificados no Hemisfério Norte. O interesse decorre da quase extinção da espécie, cuja caça foi proibida em 1935, quando restavam menos de 100 espécimes. Por nadarem devagar e perto da costa, esses animais magníficos, com 17 metros e 70 toneladas, foram presas fáceis dos baleeiros - a ponto de a espécie ser chamada de right (certa, em inglês) . Era a baleia "certa" para ser arpoada. Se for confirmado que o futuro dela está ameaçado pelo barulho, desta vez não há nada a fazer, exceto suspender todo o tráfego marítimo. E isso jamais vai acontecer.

O fundo do mar parece ser um lugar silencioso - mas não é. Um estudo conduzido nos últimos dez anos pelo Programa de Pesquisa Bioacústica da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e recém-divulgado, concluiu que o ambiente marítimo não está a salvo da poluição sonora. O que perturba as profundezas não é o mesmo ruído da superfície, até porque a propagação do som na água é quatro vezes mais rápida e eficiente do que no ar. Por isso, é natural que mamíferos marinhos e alguns peixes usem o som para se comunicar. Aí está, por sinal, o problema ambiental. Os sons de baixa frequência produzidos pelos propulsores dos navios, turbinas de vento, plataformas petrolíferas e fazendas pesqueiras viajam grandes distâncias no oceano. O barulho reverbera pelas profundezas, e baleias, golfinhos e certos peixes que se comunicam com sons de baixa frequência ficam atordoados, como se estivessem no meio de um permanente show de rock pesado.


Os cetáceos dependem da audição para encontrar alimento, reproduzir-se, fugir de predadores e se manter unidos durante migrações. Por essa razão, a poluição sonora é no mar o que o desmatamento representa em terra: uma redução do habitat. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que as baleias-francas-do-norte, que se reuniam na Baía de Cape Cod, na costa leste dos Estados Unidos, para se alimentar e acasalar, estão deixando o local. O motivo, eles suspeitam, é o barulho. "Não sabemos para onde os mamíferos foram, mas sabemos que eles não suportam toda essa atividade no mar e partem para locais mais silenciosos", disse a VEJA o americano Chris Clark, coordenador da pesquisa de Cornell. O biólogo Marcos Rossi, do Instituto Baleia Jubarte, explica: "Uma vez que o ambiente marinho está repleto de ruídos, as baleias não apenas têm dificuldade para se orientar pelos barulhos naturais do oceano como também para se comunicar entre si, o que é vital para todas as espécies".

As baleias não são os únicos animais afetados. Os golfinhos, por exemplo, devem estar igualmente incomodados. Ocorre que as francas-do-norte são as mais protegidas e estudadas de todas as baleias. Os pesquisadores chegam a conhecer por um nome próprio cada um dos 350 exemplares identificados no Hemisfério Norte. O interesse decorre da quase extinção da espécie, cuja caça foi proibida em 1935, quando restavam menos de 100 espécimes. Por nadarem devagar e perto da costa, esses animais magníficos, com 17 metros e 70 toneladas, foram presas fáceis dos baleeiros - a ponto de a espécie ser chamada de right (certa, em inglês) . Era a baleia "certa" para ser arpoada. Se for confirmado que o futuro dela está ameaçado pelo barulho, desta vez não há nada a fazer, exceto suspender todo o tráfego marítimo. E isso jamais vai acontecer.












Fonte: Planeta sustentável.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Exploração de petróleo na região de Abrolhos será discutida pela sociedade

0 Comentários

Abrolhos - Foto: Marcello Lourenço


A oposição entre exploração petrolífera na região do Parque Nacional de Abrolhos e a preservação da região deverá sair da esfera judicial. A proposta do presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação ds Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, é a de levar o debate para a sociedade e para os estados brasileiros, considerando a relevância de se explorar petróleo na região, mesmo após as descobertas do pré-sal no País.

A afirmação foi feita ao jornal on–line O Eco este ano, após as repercussões sobre a derrubada da medida que proibia, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), qualquer exploração petrolífera em uma área de 50 quilômetros em torno do Parque Nacional de Abrolhos,

Para Mello, é necessário que a sociedade saiba a importância do Parque Nacional de Abrolhos e sua zona de impacto, que abrange, inclusive, área marinha no Espírito Santo.

Em 2003, concessões da ANP no local chegaram a ser congeladas, graças a uma Ação Civil Pública do Ministério Público Federal. A medida foi fruto da mobilização da sociedade civil que, com a presença de ONG’s que atuam na região, comunidades marisqueiras, pesqueiras e de um estudo promovido pela Conservação Internacional, garantindo provisoriamente a interrupção das prospecções na região.

Para reforçar o argumento de defesa da região, foram feitos estudos por dois anos e foi criado, em 2006, a Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, por portaria do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Mas a zona caiu nos braços da burocracia e foi derrubada na Justiça, porque não fora instituída por decreto presidencial. Ali eram definidas zonas de exclusão em que não se poderiam praticar atividades de exploração de óleo e gás.

Entretanto, desta vez, 16 blocos foram liberados para exploração nas bacias do Jequitinhonha e Espírito Santo, sendo onze delas pertencentes à Petrobras. Segundo a Conservação Internacional, a decisão influirá em uma área de 9 milhões de hectares na região.

Neste contexto, além da sociedade, a intenção de 23 entidades ambientalistas das regiões afetadas é a de levar o debate para o Ministério Público, com o objetivo de entender qual será a postura dele diante dos riscos da atividade. A informação é que um derramamento de óleo nestas bacias afetaria diretamente o Parque Nacional de Abrolhos.

A decisão, divulgada pelo jornal Valor Econômico em dezembro de 2010, informa que os blocos, no entendimento da ANP e do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), excediam os limites do Parque de Abrolhos estabelecidos pelo Ibama, ao entender a limitação a um raio de 50 quilômetros dos bancos de Abrolhos, Royal Charlotte e adjacências.

A zona de amortecimento do parque, que chega até o norte do Estado do Espírito Santo, assegura a manutenção da biodiversidade no Banco de Abrolhos, tanto de seu ambiente marinho, incluindo os recifes, como também dos ecossistemas costeiros, principalmente os manguezais, as restingas e matas ciliares, desde grande parte do sul da Bahia até a foz do Rio Doce, no Estado. Trata-se de uma proteção necessária ao parque, definida no artigo 25 da Lei 9.985/00, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Com a decisão, além da continuidade de todas as atividades de exploração e produção já licitadas, há possibilidade de novas licitações na área. Ainda assim, o Ibama deverá analisar os pedidos de licença ambiental para autorizar qualquer exploração no País.



Fonte: seculoDiario.com

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Preservação florestal torna-se tema central da ONU em 2011

0 Comentários
 

Diante do cenário ambiental crítico, o desafio da ONU é aproximar cidadãos do mundo todo em torno de um projeto comum: preservar a mata, que cobre só 31% das terras do planeta. Maior reserva verde ainda está no Brasil.


O planeta deve registrar ainda em 2011 a marca de 7 bilhões de habitantes. À medida que a população se expande – e exige cada vez mais recursos naturais e espaço no globo –, a cobertura florestal se extingue. Atualmente, as florestas ocupam apenas 31% das áreas de terra do planeta.
É também em 2011 que as Nações Unidas decidiram promover o Ano Internacional das Florestas. Nesta quarta-feira (02/02), uma sessão em Nova York marca o início das atividades para "promover a consciência e fortalecer uma gestão, conservação e desenvolvimento sustentável", diz o órgão. O desafio, no entanto, é transformar essa aspiração em soluções práticas e estimular o envolvimento dos cidadãos que vivem nas cidades.
Na prática
As Nações Unidas estimam que 1,6 bilhão de pessoas dependam das florestas para sobreviver e que, no mundo todo, as matas sejam a casa de 300 milhões de indivíduos. Esse ambiente é o habitat de 80% da biodiversidade existente no planeta.
Apesar dos argumentos convincentes lançados pela ONU para estimular a preservação, o desmatamento ainda é um inimigo presente na busca pelo desenvolvimento sustentável. Um estudo da organização Conservação Internacional (CI) divulgado nesta quarta-feira, identificou as dez florestas mais ameaçadas do mundo – o Brasil aparece na lista com os apenas 8% que restaram da Mata Atlântica.
"As florestas não podem ser vistas apenas como um grupo de árvores, mas como fornecedores de benefícios vitais. Elas são importante fator econômico no desenvolvimento de diversas cidades, fornecendo madeira, alimento, abrigo e recreação, e possuem um potencial ainda maior que precisa ser percebido em termos de provisão de água, prevenção de erosão e remoção de carbono", argumenta Olivier Langrand, da CI. 
A derrubada da floresta também agrava os efeitos das mudanças climáticas, e é responsável por até 20% das emissões mundiais de gases do efeito estufa.
Bildunterschrift: Queimada e derrubada ilegal em Madagascar, na ÁfricaDo Brasil para o mundo
A maior reserva de floresta tropical do mundo está em solo brasileiro – o bioma Amazônia ocupa 49% do território nacional. O ritmo de destruição acelerado parece ter se acalmado entre agosto de 2009 e julho de 2010, quando os satélites que vigiam a floresta detectaram uma diminuição de 13,6% do desmatamento em relação ao período anterior.
Na fila de projetos do Congresso Nacional, no entanto, o polêmico plano que altera o Código Florestal vai na contramão do Ano Internacional das Florestas.
Entre as mudanças mais controversas estão a redução de 30 metros para 15 metros das áreas de preservação permanente nas margens de rios, a isenção de reserva legal para a agricultura familiar e o perdão para quem nunca obedeceu a legislação vigente. Ou seja, quem desmatou de forma criminosa não precisará pagar por isso.
Depois de 2011

Diante do cenário global ambiental pouco animador, a campanha internacional encabeçada pela ONU quer evidenciar também as desvantagens para a humanidade trazidas pela diminuição da área verde.
As Nações Unidas lembram que o desaparecimento das florestas coloca em xeque o abastecimento sustentável de água, o fornecimento de plantas medicinais à indústria da saúde – equivalente a 108 bilhões de dólares por ano–, o risco do aumento da propagação de doenças como malária. E, o que é mais ameaçador, a sobrevivência dos próprios seres humanos.

ONU critica proteção das florestas na América Latina

0 Comentários
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) lamentou que a América Latina siga atrasada na luta contra o desmatamento em relação a outras regiões do planeta.


O diretor-geral adjunto da FAO para florestas, Eduardo Rojas, assinalou que a massa florestal nos países sul-americanos foi reduzida de 904 milhões de hectares para 864 milhões de hectares na última década.

"A América Latina é a região que mais decepciona, já que a situação social e econômica pode ser comparada à da Ásia, mas em geral (os países) não aproveitaram a oportunidade como os asiáticos quando suas economias passaram a ser emergentes", disse Rojas em entrevista à imprensa, por ocasião do lançamento do Ano Internacional das Florestas na quarta-feira.

De acordo com Rojas, a situação dos recursos florestais na América Latina continua sendo problemática devido ao não aproveitamento dos recentes anos de crescimento econômico para aumentar a proteção de suas florestas, que representam 57% da massa florestal primária do planeta.

Rojas assinalou que os governos não aproveitaram a redução da agricultura de subsistência, atividade que gera maior desmatamento, para implementar políticas e investir recursos para aumentar a extensão das florestas.

"No leste da Ásia foram investidos recursos e desenvolvidas políticas, coisa que não se viu na América Latina", indicou, embora reconheça que há indícios consideráveis de que arrefeceu o ritmo do desmatamento da floresta amazônica no Brasil.

DESEMPENHO

A FAO afirmou em relatório sobre o estado das florestas divulgado na quarta-feira que a América Latina conseguiu reduzir o desmatamento em apenas 5% na última década, muito abaixo dos 37% registrados pelo mundo em geral.

Atualmente, o planeta conta com uma massa florestal de 4,032 bilhões de hectares, 53 milhões de hectares menos que em 2000.

O ritmo do desaparecimento das árvores, no entanto, caiu de 8,3 milhões de hectares, entre 1990 e 2000, para 5,2 milhões na década passada.

Estes avanços, explicou Rojas, indicam que as florestas do planeta poderiam voltar a crescer em poucos anos se for mantida a atual tendência e reduzido o "ritmo alarmante" dos desmatamentos na região amazônica e nos países africanos.

A China, por exemplo, iniciou um enorme programa de reflorestamento que aumentará sua massa florestal de 120 milhões de hectares para 200 milhões, segundo a FAO.

A Assembleia Geral da ONU declarou 2011 como o Ano Internacional das Florestas para chamar a atenção sobre a necessidade de tramitar, conservar e sustentar os recursos florestais do planeta, dos quais dependem para seu sustento pelo menos 1,6 bilhão de pessoas.


Fonte; Folha de São Paulo

Amazônia teve a pior seca dos últimos cem anos

0 Comentários
A seca de 2010 da Amazônia foi a pior dos últimos cem anos. E a quantidade de CO2 emitido pelas árvores mortas pode ser parecida com as emissões dos EUA.


As constatações são de estudiosos britânicos (da Universidade de Leeds) e de brasileiros do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Eles publicaram um artigo na revista "Science".

O grupo de pesquisadores, liderado pelo britânico Simon Lewis, mostrou que a seca de 2010 foi mais intensa e afetou uma área maior que a estiagem de 2005 --até então considerada recorde em várias décadas.

No ano passado, uma área de 3 milhões quilômetros quadrados foi atingida pela estiagem, contra 1,9 milhão quilômetros quadrados em 2005.



Rodrigo Baleia/Folhapress












Embarcações encalhadas em Tefé, na Amazônia; árvores mortas liberam CO2 semelhante às emissões dos EUA

Os cientistas fizeram um cálculo do desvio da média de chuvas comuns nas estações secas da Amazônia (chamado de desvio padrão).

"A intensidade da seca foi maior em 2010 em relação à média", explica o biólogo Paulo Brando, do Ipam, um dos autores do trabalho.

A segunda parte do estudo, explica ele, verificou quais as consequências dessa seca do ponto de vista dos estoques de carbono. Aí vem a outra má notícia: com as secas, a floresta emitirá mais CO2 do que absorverá.

Os pesquisadores relacionaram os dados de seca de 2010 com o crescimento das árvores (a partir de dados de campo coletados em 2005).

A conclusão foi que a seca do ano passado pode emitir 5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2010 e nos próximos anos. Isso não acontece de uma vez, já que a decomposição das árvores mortas é um processo lento.

Para se ter uma ideia do que isso significa: a emissão da queima de combustíveis fósseis dos EUA é de 5,4 bilhões de toneladas por ano. Em condições "normais", estima-se que a Amazônia absorva 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera.

"A seca de 2010 talvez tenha matado as árvores que já estavam vulneráveis por causa de 2005", explica Brando.

"Pode ser que a floresta se recupere, mas ainda não fomos para campo medir. Ainda temos muito trabalho de campo pela frente", diz.

Para o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é preciso analisar os dados com cuidado.

"Reduzimos o desmatamento em cinco anos, mas um fenômeno natural deixou nossa absorção de CO2 na estaca zero. Se esses cálculos não forem bem interpretados, poderão ser usados a favor do desmatamento", diz.

Marengo e sua equipe já mostraram que a seca de 2010 reduziu mais os níveis dos rios amazônicos que a estiagem anterior, de 2005.



Sem Petrobras, Instituto Baleia Jubarte suspende pesquisa

0 Comentários
O maior centro de conservação de baleias no Brasil, o Instituto Baleia Jubarte, demitiu metade de seus funcionários e suspendeu suas pesquisas. O motivo é a falta de repasse de verbas da Petrobras, principal patrocinadora de suas atividades.

Situação semelhante atravessam três outras organizações de pesquisa de animais marinhos: a Fundação Mamíferos Aquáticos, o Projeto Golfinho Rotador (ambos em Pernambuco) e o Projeto Tamar, na Bahia.

Todos eles aguardam desde setembro a renovação de convênios com a Petrobras, que diz estar analisando os resultados obtidos pelos projetos entre 2007 e 2010 "para definir a melhor forma de continuidade das parcerias".

Os projetos foram "adotados" pela estatal por lidarem, desde os anos 1980, com a conservação de chamadas "espécies-bandeira", animais grandes e carismáticos, com os quais o público se identifica facilmente.

Dos quatro projetos, apenas o Tamar (de conservação de tartarugas-marinhas) tem uma parcela significativa de renda própria. Todos os outros tiram 50% ou mais de sua receita da Petrobras.

A situação mais crítica é a do Baleia Jubarte. Cerca de 60% da receita da ONG vem do convênio. Com o fim do repasse, 18 funcionários (de 42) foram demitidos e o centro de visitantes, na Praia do Forte, será fechado no dia 20. Apenas dois cientistas permanecem no instituto, na base de Caravelas, sul da Bahia.

"Demiti de faxineira a coordenador de pesquisa", diz a diretora-presidente do instituto, Márcia Engel. Ela não quis dar detalhes sobre os prejuízos para o projeto.

O socorro a baleias encalhadas, como uma jubarte fêmea com filhote na praia de Itacimirim, norte da Bahia, também não poderá ser feito --o veterinário do instituto está cumprindo aviso prévio.

A FMA (Fundação Mamíferos Aquáticos), que tocava o Projeto Peixe-Boi Marinho em Itamaracá, Pernambuco, também demitiu funcionários devido ao atraso no repasse da Petrobras.

A fundação já vinha enfrentando problemas desde abril do ano passado, quando o ICMBio (Instituto Chico Mendes, do governo) rompeu uma parceria que tinha com ela --acusando a FMA de má gestão de recursos. Na época, 11 pessoas foram demitidas. Agora, mais sete.

A fundação depende da renovação do convênio para estender atividades de pesquisa do peixe-boi marinho aos litorais de Pará e Amapá.

Os coordenadores dos projetos Tamar e Golfinho Rotador não falaram à Folha até o fechamento desta edição.

A Petrobras afirmou que os quatro projetos compõem "um planejamento estratégico integrado", sujeito a revisão a cada três anos. A empresa disse estimular que os projetos possam se financiar sozinhos, "para garantir a continuidade dos benefícios gerados após o encerramento do contrato de patrocínio".



Fonte; Folha de São Paulo

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Dia Mundial das Zonas Úmidas

0 Comentários
As Zonas Úmidas – que teve seu dia mundial comemorado ontem, dia 2 de fevereiro – são definidas como área de pântano, charco, turfa ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo área de água marítima com menos de seis metros de profundidade na maré baixa.

Elas foram estabelecidas em 1971, na cidade iraniana de Ramsar e, por isso mesmo, o tratado dos países que as defende é chamado de Convenção de Ramsar. O Brasil só o assinou em 1993, ratificando-a três anos depois. Hoje são 160 nações signatárias e 1912 zonas úmidas de importância mundial (com área equivalente a 186.963.216 hectares).















Em comemoração aos 40 anos da Convenção das Zonas Úmidas, o primeiro lugar para Gestão Sustentável de Sítios Ramsar nas Américas foi dado para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. O prêmio será entregue amanhã, em Huatulco, México. Representantes dos países das Américas, entre eles o Ministério do Meio Ambiente (MMA), estão reunidos no México para simpósios temáticos, com a apresentação de atividades desenvolvidas nos Sítios Ramsar em cada país.

O tema deste ano do Dia Mundial das Zonas Úmidas é “Florestas para a Água e para as Zonas Úmidas”, motivado pelo Ano Internacional de Florestas, que se comemora em 2011.



Ao todo, o Brasil possui onze Sítios Ramsar. São eles a Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense (MA); Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses (MA); Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (MT); Parque Nacional do Araguaia (TO); Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (BA); Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS); Parque Estadual do Rio Doce (MG); Parque Estadual Marinho do Parcel do Manoel Luíz (MA); Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM); Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda do Rio Negro (MS) e Reserva Particular do Patrimônio Natural do Sesc Pantanal (MT).

A publicação da comemoração dos 40 anos da Convenção de Ramsar pode ser acessada no endereço do Ministério do Meio Ambiente (MMA), no http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=205&idConteudo=9025&idMenu=7778. Já o website da organização é www.ramsar.org (com versões em inglês, francês e espanhol).

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DESMATAMENTO VOLTA A CRESCER NA AMAZONIA

0 Comentários
Satélites do Inpe indicam aumento de 11% entre agosto e dezembro, revertendo tendência


Nos cinco meses que se seguiram à menor taxa de desmatamento da Amazônia em 22 anos, o ritmo das motosserras na floresta voltou a crescer. Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicaram aumento de 11% no abate de árvores entre agosto e dezembro de 2010, comparado ao mesmo período do ano anterior.





. Mesmo com nuvens impedindo visão do satélite, Pará (acima) e MT lideraram desmate

Captado pelos satélites do sistema Deter, mais rápido e menos preciso, os números não permitem afirmar, por ora, que houve reversão na tendência de queda do desmatamento, registrada por dois anos consecutivos. Mas os dados já deixam a área ambiental do governo em alerta.

"Onde há fumaça, há fogo, mas vamos ter de esperar um pouco mais para ver se houve reversão da tendência de queda do desmatamento", avalia Mauro Pires, diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente. A preocupação maior é com os meses de seca na Amazônia, quando o ritmo das motosserras costuma, tradicionalmente, crescer: "A partir de março, a situação fica mais complicada e o Deter já sinaliza a preocupação".

Entre agosto e dezembro do ano passado, os satélites registraram o abate de 1.267 km2 de floresta, o equivalente a 85% da área da cidade de São Paulo. No mesmo período de 2009, o mesmo sistema havia captado o desmatamento de 1.144 km2.

"Houve um aumento, mas a base de comparação ainda é prematura e a diferença é pequena", disse o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Ele acredita que há motivo para preocupação porque estima-se que o Deter tenha se limitado a captar apenas uma parcela pequena, de cerca de 20%, do desmatamento real. Isso porque os satélites mais rápidos não alcançam o corte de árvores em áreas menores, que, somadas, concentram cada vez mais o maior volume da devastação.

Além disso, os dados referem-se ao período em que a Amazônia costuma estar coberta por nuvens, obstáculos às imagens de satélites. A maioria das áreas desmatadas captadas pelos satélites no final do ano tem mais de 10 km2 e sofreu corte raso, a forma mais radical de degradação.

Nos meses de novembro e dezembro, os Estados de Mato Grosso e do Pará registraram as maiores áreas de degradação da floresta. Em Mato Grosso, mais de metade da área estava coberta por nuvens e, portanto, invisíveis aos satélites. No Pará, a cobertura de nuvens ficou próxima de 80% da área do Estado.

A eventual interrupção na queda do desmatamento da Amazônia, depois de dois anos consecutivos, poria em xeque compromissos de corte das emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. A meta fixada em lei prevê a redução em 80% do ritmo de desmatamento da Amazônia até 2020, para cerca de 5 mil km2 de devastação da floresta por ano.

Meta. Em 2009, o País atingiu antecipadamente a meta prevista para 2015, ao registrar 6.451 km2 de abate de árvores. Mas uma nova redução é esperada pelas autoridades na taxa anual, que será medida até julho. O desmatamento é responsável pela maior parcela das emissões de gases de efeito estufa.

Preocupação

O desmate no Amazonas, Acre e Tocantins é o que mais deixa o governo em alerta. "A devastação se aproxima do coração da floresta", diz Mauro Pires, do Ministério do Meio Ambiente.




Fonte; O Estadão.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O mundo com sede

0 Comentários
Dois terços da população mundial em 2025 não terão acesso à água potável se nada for feito para evitar a escassez


A natureza pode ser irônica quando responde às agressões causadas pelo homem. Exemplo disso é a relação da humanidade com a água, o líquido mais abundante da Terra. Tratamos tão mal nosso planeta que acabamos nos colocando numa realidade catastrófica, de dupla face: ao mesmo tempo que corremos o risco de afogar nossas cidades sob a água salgada do mar, padecemos da falta de água doce.


De um lado, está o aquecimento global, com o conseqüente derretimento das geleiras e a elevação do nível dos mares, que ameaça desalojar bilhões de habitantes das zonas litorâneas. De outro, há o esgotamento das reservas de água potável do planeta. Em outras palavras, estamos chegando à mesma situação extrema de um náufrago, que se vê com água por todos os lados, mas sem nenhuma gota para beber.

Relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) repetem o diagnóstico cada vez mais alarmante: mais de 1 bilhão de pessoas - o equivalente a 18% da população mundial - não têm acesso a uma quantidade mínima aceitável de água potável, ou seja, água segura para uso humano. Se nada mudar no padrão de consumo, dois terços da população do planeta em 2025 - 5,5 bilhões de pessoas - poderão não ter acesso à água limpa. E, em 2050, apenas um quarto da humanidade vai dispor de água para satisfazer suas necessidades básicas.

A escassez de água não ameaça apenas com a sede. Traz a morte na forma de doenças. Segundo a ONU, 1,7 bilhão de pessoas não têm acesso a sistemas de saneamento básico e 2,2 milhões morrem a cada ano em todo o mundo por consumir água contaminada e contrair

doenças como diarréia e malária.

A água potável é um bem raro por natureza. Quase 97,5% da água que cobre a superfície da Terra é salgada. Dos restantes 2,5%, dois terços estão em estado sólido, nas geleiras e calotas polares - de difícil aproveitamento. A maior parte da água em estado líquido encontra-se no subterrâneo. Lagos, rios e lençóis freáticos menos profundos são apenas 0,26% de toda a água potável.

É dessa pequena fração que toda a humanidade (e boa parte da flora e fauna) depende para sobreviver. É claro que, a princípio, fontes não deveriam esgotar-se, com o ciclo da água garantindo a permanente renovação do volume de rios, lagos e lençóis freáticos por meio das chuvas, originadas pela evaporação dos mares. A água está em eterna reciclagem, há bilhões de anos. A questão é o descompasso entre o tempo necessário para essa renovação e o ritmo em que exploramos os recursos hídricos.

DESEQUILÍBRIO

O primeiro problema é o desequilíbrio na distribuição - um desequilíbrio que começa pela geografia física e segue pela economia. Alguns países têm muito mais água do que sua população necessita. É o caso do Canadá, da Islândia e do Brasil. Outros são situados em regiões extremamente secas, como o norte da África, o Oriente Médio e o norte da China.

Como resultado dessa má distribuição, um canadense pode gastar até 600 litros de água por dia, enquanto um africano dispõe de menos de 30 litros para beber, cozinhar, fazer a higiene, limpar a casa, irrigar a plantação e sustentar os rebanhos.

As populações que habitam as áreas mais áridas da Terra vivem o que se chama "estresse hídrico", uma reunião de fatores ambientais, como falta de chuvas, e socioeconômicos, como crescimento demográfico alto, que resulta em gente demais para água de menos.