Quatro das cinco regiões onde mais se encontram espécies endêmicas da Mata Atlântica estão localizadas na porção nordestina do bioma, onde, apesar da rica biodiversidade, há poucas ações de conservação. A falta de cuidados fez com que cerca de 92% da Mata Atlântica do Nordeste fosse destruída, mas nem tudo está perdido: o movimento Amane provou que, com a ajuda da população local, é possível recuperar o bioma na região em pouco tempo
Da Bahia ao Piauí, passando por outros seis estados da região, a porção de Mata Atlântica Nordestina corresponde a cerca de 28,8% de todo o território do bioma e abriga quatro dos cinco principais centros de endemismo da Mata Atlântica - ou seja, regiões que, além de serem consideradas as mais ricas em biodiversidade do bioma, abrigam uma grande quantidade de espécies endêmicas.
Os dados foram divulgados pela Amane - Associação para Proteção da Mata Atlântica do Nordeste e revelam uma área que merece proteção, mas que, apesar da sua importância, recebe pouca atenção do governo e, também, de entidades do terceiro setor. A primeira organização a focar seus esforços, exclusivamente, na preservação e restauração da Mata Atlântica nordestina foi a própria Amane, fundada em 2005 por oito ONGs, nacionais e internacionais, indignadas com a situação da região.
Segundo levantamento realizado por elas, a falta de cuidados fez com que a área passasse a ser explorada, de forma intensa e irresponsável, pela população e empreendimentos locais, o que resultou na destruição de cerca de 92% da Mata Atlântica nordestina. Hoje, restam, apenas, 19.427 km² do bioma na região - dos 255.245 km² originais - e dezenas de espécies que vivem no local já estão, oficialmente, ameaçadas de extinção, dando à Mata Atlântica nordestina o título de uma das regiões mais degradadas do bioma.
No entanto, o trabalho da Amane - que atua na região há cerca de seis anos - provou que, com ações bem planejadas, é possível recuperar a região em pouquíssimo tempo. Atualmente, a associação realiza uma porção de projetos na região e um dos mais bem sucedidos é o Programa de Desenvolvimento Sustentável para o Assentamento Pacas, implantado no município de Murici, em Alagoas.
A ação reeducou as 85 famílias que moram no assentamento - localizado no entorno do Complexo Florestal de Murici -, para que passassem a utilizar a floresta de forma sustentável. "Eram cerca de 780 pessoas muito humildes, que queriam fugir da economia escravocrata da região, baseada na cana-de-açúcar, mas que não faziam ideia de como manejar, de forma adequada, os recursos naturais que a floresta disponibiliza. A mata era vista por eles como local de despejo de resíduos e caça predatória. Muitos vendiam, ilegalmente, aves raras nas feiras locais para conseguir dinheiro", contou Maria das Dores Melo, que é coordenadora da Amane, durante o evento Viva a Mata 2011.
Após a ação de reeducação realizada pela Amane, a população do assentamento Pacas passou a produzir orgânicos, que eram vendidos nas feiras locais da cidade, gerando renda para as famílias. A iniciativa deu tão certo que os moradores fundaram a COOPF - Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar Camponesa e, hoje, têm contrato com a prefeitura de Murici para fornecer merenda escolar orgânica para todas as escolas públicas do município.
"O programa ajudou, inclusive, a diminuir a discriminação que o governo e a própria população tinham com os moradores do assentamento. Antes, eles eram vistos como ‘sem-terras acomodados’ e, hoje, além de serem ‘produtores de agricultura familiar’, mantêm uma ótima relação com todos", disse Maria das Dores. "O resultado não podia ser melhor. Claro que ainda há caça e desmatamento na região e é preciso fiscalizar constantemente, mas a pressão antrópica no Complexo Florestal de Murici diminuiu muito, porque hoje eles entendem que precisam da floresta", concluiu.
Para conhecer os outros projetos da Amane - que é formada pelas ONgs Cepan, SNE, IARBMA, CI-Brasil, TNC, Save Brasil, WWF-Brasil e Fundação SOS Mata Atlântica -, acesse o portal da associação.
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