Um artigo científico publicado recentemente na revista Scientia Marina traz os resultados de uma pesquisa que pode ajudar na recuperação e na gestão da exploração de peixes das famílias dos badejos, garoupas e vermelhos. Intitulado Spawning patterns of commercially important reef fish (Lutjanidae and Serranidae) in the tropical western South Atlantic, o estudo é de autoria de quatro pesquisadores brasileiros e foi conduzido ao longo de dois anos e meio na região dos Abrolhos, no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo, com o apoio da Conservação Internacional (CI-Brasil) e a participação dos pescadores locais.
Ao contrário do que ocorre em partes do Caribe e na América do Norte, no Brasil (Atlântico Sul ocidental) a informação sobre épocas e locais de reprodução de peixes ameaçados e com grande valor comercial – como é o caso das famílias estudadas – ainda é bastante escassa, prejudicando a regulamentação da pesca comercial. Essa falta de controle, ou a existência de controles inadequados, é um dos principais fatores responsáveis pelo declínio das populações de peixes e da própria produção pesqueira nas águas tropicais do Nordeste do país. No Brasil, além do evidente desaparelhamento dos órgãos que controlam a atividade pesqueira, a formulação de políticas efetivas para conservação e uso sustentável desses recursos ainda depende de informações de qualidade acerca da vida das espécies-alvo da pesca, tais como as épocas e os locais de desova e os tamanhos adequados para a captura.
“Quanto mais conhecermos a biologia das espécies de importância comercial, melhores serão nossas chances de promover seu uso racional”, afirma Rodrigo Moura, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e um dos co-autores do estudo.
Espécies-alvo, metodologia e principais resultados - Na costa tropical do Brasil são encontradas dezoito espécies da família dos serranídeos (badejos e garoupas) e quinze espécies de lutjanídeos (vermelhos e pargos). A pesquisa concentrou-se nos ciclos reprodutivos das espécies com produção pesqueira mais expressiva na região de Abrolhos, três serranídeos – a garoupa (Epinephelus morio), o badejo (Mycteroperca bonaci) e o catuá ou jabú (Cephalopholis fulva) – e cinco lutjanídeos – o ariocó (Lutjanus synagris), o dentão (L. jocu), a cioba (L. analis), a guaiúba (Ocyurus chrysurus) e o realito (Rhomboplites aurorubens).
“As duas famílias pesquisadas reúnem alguns dos peixes de maior importância para a pesca e a gastronomia no Brasil”, aponta Matheus Freitas, biólogo e doutorando em Ecologia na Universidade Federal do Paraná. “É importante ressaltar que elas são também extremamente valiosas sob o aspecto ecológico, tendo um papel importante na manutenção do equilíbrio nos recifes coralíneos”.
De maio de 2005 a outubro de 2007, os estudos envolveram a identificação das espécies, a medição, a pesagem e a verificação do sexo e maturação das gônadas de peixes desembarcados nos municípios de Prado, Alcobaça, Caravelas e Nova Viçosa, no sul da Bahia. Ao todo, foram analisados 3.528 peixes das oito espécies selecionadas para o estudo. “A partir da observação de fatores como consistência, tamanho, cor e vascularização das ovas em milhares de peixes desembarcados ao longo de mais de dois anos, pudemos investigar quando os peixes estavam em fase de desova”, explica Freitas. A análise possibilitou também identificar o tamanho mínimo a partir do qual as espécies estão aptas a se reproduzir.
A conclusão da pesquisa revela que os picos reprodutivos das espécies concentram-se entre os meses de julho e agosto, no caso dos badejos e garoupas; enquanto quase todos os ‘vermelhos’ têm duas etapas reprodutivas anuais: uma mais intensa, entre setembro e outubro, e outra menor, que vai de fevereiro a março. A exceção entre os vermelhos é o realito, cujo período de reprodução ocorre de fevereiro a maio.
A pesquisa aponta também a necessidade de se determinar os locais de desova dessas espécies, visando sua proteção. “Isso não é tarefa fácil e depende de esforços de longo prazo. Continuaremos trabalhando na região para identificar as áreas exatas onde ocorrem as agregações reprodutivas”, esclarece Freitas. Ele explica que, em um contexto no qual os locais de reprodução ainda não foram identificados é necessário usar o conhecimento existente para subsidiar medidas de proteção dos estoques, incluindo uma regulamentação urgente quanto ao tamanho e a época de reprodução.
Fonte:Caravelasnews
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